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Gueixa(芸者), uma prostituta de luxo?

Ichi Saiyo, a Gueixa mais badalada de Ponto Cho.

Absolutamente não, mas é a primeira imagem que nós estrangeiros temos, o que é um grande equívoco. As gueixas são profissionais com alto nível cultural e artístico cultivado durante anos de estudos e treinamentos.

Minha experiência e impressão

Ensaio feito com a Gueixa Ichi Saiyo em Quioto.

Tenho percorrido o arquipélago japonês fotografando templos, castelos, monumentos históricos e paisagens que sensibilizaram o meu coração. Entretanto, nada me emocionou mais do que ver aquela boneca nipônica ambulante com seus gestos graciosos, movimentos suavemente harmônicos e a delicadeza de uma flor recém desabrochada.

Esta emoção se tornou indescritível quando soube que ter a oportunidade de estar frente a frente com uma genuína gueixa é algo raríssimo, pois elas não ficam circulando pelas ruas como as maiko (denominação das aprendizes de gueixa).

Após pesquisas e um ensaio fotográfico realizado com a Ichi Saiyo, a gueixa mais badalada de Ponto Cho em Quioto, procurarei transmitir meu ponto vista e informações sobre estas beldades.

Matsuo Sato.

Vendo a minha arte, mas não vendo o meu corpo.

Esta é a filosofia de vida de uma verdadeira gueixa.

O estereótipo  generalizado no mundo ocidental  como sendo uma prostituta de luxo, acredito ser consequência de livros e filmes, que transmitem somente uma época ou uma das fases da história da vida destas artistas.

Realmente, desde o aparecimento das gueixas  houve uma parte destas artistas que se degeneraram, passando a ganhar a vida se prostituindo, circunstância esta, agravado no período das guerras, onde para se sobreviver, passou-se a usar de todos os artifîcios.

 Outro fator que ajudou a propagar esta imagem distorcida está relacionada com as prostitutas   profissionais seletas, conhecidas por Oiran.     Elas se vestiam de forma semelhante a uma gueixa e ficavam nos Yukaku (área delineada por uma  linha   vermelha,  onde   se   concentram   as   casas   de prostituição). 

Boneca em tamanho natural de uma prostituta Oiran - Foto feita no Eiga Mura em Quioto.

Em Quioto, o Yukaku mais famoso era o de Shimabara, que deixou de existir, quando o governo japonês decretou a proibição da prostituição em 24 de maio de 1956.

As Gueixas na atualidade
Existem no Japão, normalmente concentradas nas grandes cidades as casas conhecidas por Ochaya, que são locais tipicamente japoneses, onde se dispõe de salas de diversos tamanhos Zashiki para atender os clientes.

Estas casas dispõe de uma infra estrutura para atender desde um jantar, até um banquete para um grande grupo de pessoas.  Quando solicitado pelo cliente, os Okiyas (casa das Maikos e Gueixas), enviam as artistas para fazer companhia aos clientes.

A cidade de Quioto é o berço e a meca das gueixas. Ainda hoje existem cinco áreas onde se concentram os Okiyas e Ochayas, que são: Gion, Ponto Cho, Miyagawa cho, Kamishitiken e Gion Higashi. Estas áreas são chamadas de ¨Kagai¨, que significa literalmente, cidade flor.

O pagamento feito às gueixas, é chamado de Hanadai, e o valor varia em função da pessoa, normalmente, uma maiko recebe a metade do valor que uma gueixa recebe.

Antigamente, quando ainda não existia o relógio, o valor pago para uma gueixa era chamado de Senkodai, que era o valor pago pelo tempo gasto para a queima de um Senko (incenso).

Atualmente, a grande maioria dos estabelecimentos Okiyas e Ochayas estão integrados em Quioto. Nas cidades de Niigata e Akita, estas casas funcionam como empresas devidamente registradas.

Ichi Saiyo durante o ensaio fotográfico.

Gueta utilizado pelas Gueixas.


A origem das Maikos e Gueixas

Conta-se que há  mais de 300 anos, ainda no período Edo, nas proximidades da cidade de Quioto haviam casas de chá conhecidas por Mizuchaya.  Nestas dependências o chá era servido aos viajantes por garotas que seriam as garçonetes de hoje. 

Com o tempo, estas casas de chá foram evoluindo, passando a servir também comidas e bebidas alcoólicas. As atendentes, além de servir os pratos nas mesas, passaram a entreter os viajantes, cantando e dançando graciosamente, imitando os shows de Kabuki (teatro tradicional japonês), que estavam na moda nesta época, dando origem às Maikos e Gueixas.

 

Maiko trabalhando em uma recepção(foto:divulgação)

Pokuri, tamanco utilizado pelas Maiko(foto:devulgação)


O passo a passo para se tornar uma gueixa

  • O primeiro passo para se tornar uma Gueixa, é fazer o Shikomi, que consiste em introduzir a garota entre 14 e 15 anos, numa casa de Maikos e Gueixas, conhecidas por Okiya.
  • Hoje esta escolha é espontânea, entretanto antigamente, estas garotas eram vendidas pelos pais aos Okiyas, como Spillberg nos mostra no filme Sayuri - Memórias de uma Gueixa.
  • A partir do Shikomi, estas garotas passam a ter o Okiya como sua residência. Durante um ano, auxiliam suas superioras e em troca, vão aprendendo a se maquiar e vestir quimono.
  • Depois de um ano do Shikomi, estas garotas podem se tornar uma Maiko. Aproximadamente em cinco anos, num contínuo processo de aprendizagem e treinamento, vão polindo suas técnicas e dons artísticos, até se tornarem Gueixa.
  • As artes desenvolvidas durante esta fase são : música ( cantar e dançar ), tocar instrumentos musicais ( shamisen, tsuzumi, taiko, etc.), cerimônia do chá, conversação, brincadeiras de entretenimento em Ozashiki e boas maneiras.
  • Chegado a época, existe a formatura das Maikos, que se transformarão em Gueixas. Esta formatura é feita em cerimônia conhecida por Eri Kae, que como a própria palavra diz, consiste em trocar a gola do quimono da cor vermelha para a cor branca.
  • Entretanto, esta cerimônia não consiste somente na troca da cor da gola do quimono. Esta formatura é feita com todas as pompas, dignas de um princesa, reunindo convidados da alta sociedade local.  As Maikos que se formam como gueixas apresentarão shows dançantes e  músicais vestidas com os novos quimonos, entretendo os convidados.

 

Este marketing gera um custo altíssimo, que é financiado pelos patrocinadores nomeados pelas Mamas(proprietárias) dos Okiyas Estes patrocinadores nomeados um para cada Gueixa, conhecidos por Patrões, passam a ser os responsáveis pela sua patrocinada, arcando com todos os custos necessários para a sua manutenção, tendo em contrapartida, o privilégio de ser o amante exclusivo da sua patrocinada.

Atualmente existem muitas Gueixas independentes, ou seja, não dependem de um patrocínio.

Foto posada da Ichi Saiyo.

Kanzashi utilizado pelas Maikos e Gueixas.


As diferenças de uma Maiko e uma Gueixa

  • Além da experiência bem inferior, as Maikos são chamadas de Hangyoku, que significa metade da taxa. Os valores pagos para uma de Maiko é a metade do valor pago para uma Gueixa.
  • No quimono, a diferença mais marcante é o Obi (faixa decorada do kimono), que nas Maikos é comprido na parte traseira, chegando até próximo ao tornozelo e são chamados de Darari Obi.
  • Outra diferença está no estilo do cabelo, as Gueixas usam peruca e o estilo é conhecido por Shimada, já as Maikos usam o cabelo próprio, penteado no estilo conhecido por Marumage.
  • As Maikos usam um calçado com sola alta de madeira, conhecidas por Pokuri, e as Gueixas usam o Zori ou Gueta (chinelo japonês).

Tanto as Maikos, quanto as Gueixas usam um enfeite no cabelo chamado de Kanzashi, que muda em função das épocas do ano, em fevereiro é a flor de ume, em abril é a flor de sakura e em outono é a flor de crisântemo, já no ano novo, o enfeite usado é o cacho de arroz.


 

 

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